Carioquices para todos os públicos
5 de maio de 2008O melhor do Rio de Janeiro não está nos guias de viagem. Alguns pontos conservam o charme imperial e ainda têm aquele quê de ousadia. Confira como fugir do típico roteiro de turista e encarar os programas bem cariocas
Difícil falar sobre sua cidade sem ressaltar exageradamente as qualidades ou acabar vendo pêlo em ovo para criticar algo que só enxerga quem vivencia todo dia o mesmo problema. Mas não tem jeito. É assim. Carioca que é carioca, como eu, pode até aceitar que falem mal de sua terra, mas desde que seja outro conterrâneo, e olhe lá! É uma panelinha natural dos nativos de qualquer destino, certo? Para uns, o bairrismo é mais acentuado. Para outros, não. No caso do Rio é forte, sim, e ponto.
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Praticamente todos os dias, reportagens são publicadas contando algo bastante violento, mas, mesmo assim, os turistas não param de desembarcar na cidade. Como queremos livrar você de “furadas”, preparamos um roteiro indicando onde e quando ir, quem freqüenta determinado lugar e como se divertir na Cidade Maravilhosa.
Nossa programação é baseada no dia-a-dia dos cariocas que conhecem o lugar como a palma da própria mão e que querem que você curta o que há de melhor neste paraíso.
Dia de luz, festa do sol
A primeira dica é: acostume-se com o ritmo da cidade. Chegar à praia de Ipanema (o agito é mesmo por lá) antes das 14 horas no fim de semana não está com nada. Você encontrará a areia lotada, mas, do povo que realmente interessa, só vai ver meia dúzia de gatos pingados. A noitada ou night (balada é coisa de paulistano) começa tarde e vai até de manhã cedo. Por isso, antes desse horário o pessoal ou está dormindo ou se recuperando da farra com um bom desjejum.
Nesse caso, a dica pré-praia é um brunch no lounge do casarão do Parque Lage, ou, se não quiser ir até lá, experimente tomar um café da manhã no Supermercado Zona Sul, da Rua Gomes Carneiro, próximo à Praça General Osório. Os sucos são sempre frescos e os pães quentinhos.
Depois de bem alimentado, capriche na proteção solar e escolha o point que mais lhe apetece. Toda a orla é bastante democrática e cada posto tem um tipo de galera. O mais tradicional e conhecido (muito freqüentado por gringos) é na altura da Farme de Amoedo, tradicional rua gay de Ipanema. Mas, por conta de alguns ataques depitboys recalcados e porque nem todo mundo curte o clima de caça, muitos nativos deixaram de tomar sol ali.
De uns tempos para cá, o Coqueirão, uma região da praia com palmeiras bem altas – quase em frente à Rua Joa na Angélica –, virou ponto de encontro GLS, com muita gente linda, bronzeada e bem descolada. Há ainda aqueles que preferem uma certa calmaria e se instalam diante do hotel Arpoador Inn. O melhor é que alguns globais batem cartão ali também.
Escolhido o lugar, relaxe e entre na onda. A praia é a extensão das residências de quem vive no Rio e, por isso, é mais comum do que você imagina fazer novas amizades e paquerar à beira-mar. Em geral o visitante adota uma barraca na areia e um ponto fixo para ficar. Assim, quando encontrar algum conhecido ou amigo por acaso fora da praia, pode marcar: “te vejo lá na barraca do fulano amanhã”. Isso é muito comum, não estranhe. Para melhor se localizar, a maioria usa também os prédios como referência e diz: “estou na barraca do fulano, em frente ao quarto prédio, da direita para a esquerda, da Joana Angélica”. Não é tão complicado quanto parece.
Hora de barbarizar!
A tarde cai e o pôr-do-sol escandaloso esbarrando no Morro Dois Irmãos recebe aplausos dos espectadores. Não importa se você tem o privilégio de ver aquele espetáculo todos os dias, sempre é um absurdo de lindo! Por isso, o dia na praia não acaba enquanto o último raio de sol insistir em brilhar. O que rola depois vai depender de como o corpo está.
Alguns partem direto para um barzinho (confira boas opções em Comidinhas e Bebidinhas na próxima página). O Informal é sempre uma opção. O clima que dá nome a casa é real. No balcão são servidos petiscos como tiras de filé mignon com queijo e bolinho de carne-seca – com chope, claro.
Já outros preferem descansar um pouco em casa e recarregar as baterias para a noitada (que sempre promete). Como toda cidade, os clubes e boates do Rio também têm um dia específico com a melhor festa.
Há vida fora da zona sul: rotas alternativas
Embora muitos não saiam da zona sul para praticamente nada, a Lapa, o Centro e Santa Teresa também merecem ser visitados. Áreas tradicionalíssimas da boemia carioca, os bairros hospedam museus, ateliês, brechós e muitos bares e restaurantes para todos os gostos.
Conheça alguns programas para quem quer fugir da praia ou para o caso de São Pedro enviar as tradicionais chuvas de março justamente durante sua visita ao Rio:
• As manhãs do fim de semana podem começar com um passeio na Lagoa Rodrigo de Freitas. O ambiente é ideal para caminhar, dar uma volta de bicicleta ou praticar cooper. Um passeio de pedalinho (em formato de cisne) também é uma ótima opção. Você terá uma visão do Rio à qual normalmente não está habituado.
• No Morro Dois Irmãos há um mirante (com acesso pelo Alto Leblon) de onde se pode avistar as praias da zona sul e o Recreio.
• Depois da praia ou nos dias chuvosos, a Livraria de Travessa é um ponto de encontro. Além de tomar um bom café, você pode conferir eventos como lançamentos de livros e pocket shows musicais.
DIÁRIO DE UM CARIOCA
Carioquíssimo, o consultor de moda Rogério S dá as manhas de como curtir o que há de bom e de melhor no Rio. Sempre por dentro do mundo fashion e dos programas bacanérrimos, ele sugere um roteiro incrível:
Quais são os melhores dias para sair no Rio e a que lugares não podemos deixar de ir?
Costumo ir toda terça à festa Maja, que acontece em um clube novo chamado Pista 3. Na quinta ou no domingo, prefiro o 00 (Zero Zero), no Planetário da Gávea.
Dá para comer bem sem gastar muito no Rio?
Quando quero almoço baratinho, penso no Fellini, na Rua General Urquiza, no Leblon, ou no Da Silva, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Tem ainda o Nankim, na Visconde da Graça, Jardim Botânico. Em frente ao Copacabana Palace abriu um quiosque especial e bem equipado (faz parte do projeto de urbanização da orla para o Pan-Americano), onde fica o Bar do Luiz. Ele é clássico e especializado em comida alemã. Fora da zona sul, tem o Capela, na Lapa. O esquema é mais comidão e pratos bem servidos.
Como você dividiria a freqüência dos espaços na praia?
Para ferveção: Coqueirão. Para pegação: Farme. Para curtir com a família: Arpoador. Para passar o dia inteiro: Reserva, na Barra. Para ficar peladão: Abricó, em Grumari.
E onde encontrar acessórios de moda bem bacanas?
Para comprar óculos vintage incríveis e baratinhos vá à feirinha de antiguidades da Gávea, no domingo. Se quiser caçar quinquilharias de todo o tipo, não deixe de visitar a feira de antiguidades da Praça XV, no Centro, no sábado. Todo primeiro sábado de cada mês acontecem vendas promocionais na Rua do Lavradio, na Lapa. Tem muita coisa maneira por lá. É só “fuçar”.
Como se vestir como um carioca legítimo e não parecer turista?
Para entrar no dress code local a dica é a Galeria River (Rua Francisco Otaviano, 67, Arpoador), entre Copacabana e Ipanema. Lá você encontra todo tipo de bermudas de surfe e surfistas muito saudáveis passeando pelos corredores.
Comidinhas e bebidinhas
• Ponto de boemia e boa gastronomia, o Baixo Gávea possui vários restaurantes que servem grelhados em um esquema meio fast-food. O cardápio dos bares é quase o mesmo, com destaque para o galeto e a lingüiça – acompanhados de chope (sempre!). Nos fins de semana, a disputa por mesas é muito grande. Lá estão os restaurantes Braseiro e Hipódromo.
• Um dos melhores couverts é o do restaurante Bazar, em Ipanema. A casa abre do meio-dia às 2 da manhã.
• O chamado Baixo Leblon reúne uma esquina clássica, com as pizzarias Guanabara e Diagonal. Aliás, as casas não fazem apenas pizzas. O Diagonal Grill traz em seu cardápio massas, carnes e aves, e a Guanabara serve também petiscos – embora os pedaços avulsos sejam o melhor acompanhamento para o chope. Muita boemia até altas horas. É bem típico o carioca comer no balcão de fora, mesmo enquanto troca idéia com os amigos.
• A Academia da Cachaça mantém uma das melhores cartas da bebida típica do País. A marca tem duas casas no Rio, uma no Leblon e outra na Barra da Tijuca. Além das “purinhas”, são servidos pratos da culinária brasileira como feijoada e escondidinho e drinques como a caipirinha de lichia.
• Tão tradicional quanto o chope carioca é o bolinho de bacalhau. Um dos mais procurados entre os restaurantes mais novos é o Bacalhau do Rei, na Gávea.
• Entre os restaurantes árabes, o destaque é o Amir, em Copacabana, que serve pratos árabes, libaneses e petiscos marroquinos deliciosos.
• Ainda em Copacabana, a proposta kitsch é levada a sério na decoração do The Copa. O ambiente foi planejado com bancos altos e um piso quadriculado, além dos detalhes em cada canto do bar. As bebidas não poderiam ser tradicionais – há um cuidado com as cores e a decoração de cada drinque. Indicado para pré-noitada e para quem quer conferir o som dos DJs provando um dos sanduíches com nomes de ícones pop.
BRUNCH NO PARQUE LAGE
Localizado em uma das áreas mais privilegiadas do Rio de Janeiro, aos pés do Corcovado e quase beirando a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico, foi projetado em 1840 pelo paisagista inglês John Tyndale. O projeto original passou por reformulações entre 1920 e 1940, e ganhou um casarão, construído pelo industrial Henrique Lage no lugar da antiga residência de seu pai, Antônio Martins Lage.
Nenhum deles deve ter imaginado que, um dia, o pátio central hospedaria um programa supercarioca: o tradicional brunch nos fins de semana na área da piscina. A freqüência é tão eclética quanto o estilo da construção e inclui desde famílias com crianças a fashionistas. Todos recebidos com a mesma cordialidade. Após a refeição, dê uma caminhada pelos jardins geométricos que, em várias partes, abrem espaço para a floresta, os arbustos e as palmeiras imperiais.
• O ambiente do Miam Miam, em Botafogo, lembra um sala de estar, onde são servidas carnes, massas e pescados. O estilo confort food é um convite a refeições sem pressa, com pratos tradicionais lembrando a culinária caseira. Todos os móveis são antigos e estão à venda, dando ao lugar um ar de antiquário. Um dos destaques é o drinque Ruela, com vodca, limão, grenadine e gengibre.
• A culinária portuguesa do clássico Antiquarius pode ser provada também no Da Silva, com duas casas – uma no Centro e outra em Ipanema. Além dos pratos lusitanos, a casa mantém um espaço para degustação de vinhos e umlounge.
• O Alessandro e Frederico, em Ipanema, é um dos espaços onde se pode tomar café da manhã até um pouco mais tarde. A casa mantém um cardápio de pães, paninis, omeletes, sopas e sanduíches. A pizzaria da franquia, localizada na mesma rua, oferece pizzas especiais e uma grande variedade de antepastos. Destaque para a decoração.
• Bar D’Hotel, localizado no Hotel Marina, no Leblon, é sempre in. Além dos turistas e da vista para a praia, muitos moradores do Rio encontram no espaço um ambiente requintado, com drinques variados.
• A história do Rio de Janeiro foi alimentada por alguns restaurantes, como o Café Lamas, no Flamengo, e o Bar do Luiz, no Centro. Com mais de cem anos de tradição, os espaços receberam personalidades políticas e artísticas em diferentes períodos. Outro ponto em comum é o atendimento. Muitos garçons trabalham há mais de 20 anos nas casas, o que garante uma identificação com o ambiente, os pratos e as famílias que as freqüentam.
• Quiosque na Lagoa Rodrigo de Freitas (próximo ao pedalinho), o Palaphytas tem um ar indiano e é um espaço indicado para drinques, como exóticas caipirinhas servidas à luz de velas.
A fome bateu na praia?
O clássico Biscoito Globo é quase exclusivo do Rio de Janeiro. Trata-se de um biscoito de polvilho doce ou salgado que costuma ser consumido com mate gelado no galão. Na areia também é típico comer o queijo coalho na brasa e o açaí das barracas e dos quiosques.
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